sábado, 12 de novembro de 2016

O MENSAGEIRO INCONVENIENTE

Então Aimaás, filho de Zadoque, disse: “Vou correndo anunciar ao rei a boa nova de que o SENHOR lhe fez justiça e o livrou de seus inimigos!” Porém Joabe lhe advertiu: “Hoje não serás portador de uma alegre mensagem; noutro dia sim, porque a nova não é boa: o filho do rei está morto!” E Joabe convocou um escravo cuxita, etíope, e lhe ordenou: “Vai comunicar ao rei tudo o que viste!” O homem de Cuxe reverenciou a Joabe e saiu correndo para levar a notícia ao rei. Todavia Aimaás, filho de Zadoque, insistiu ainda e rogou a Joabe: “Haja o que houver, eu também quero ir atrás do cuxita!” Contudo Joabe lhe respondeu: “Para que vais correr, meu filho? Nenhuma recompensa receberás por dar essa notícia!” Mas Aimaás replicou: “Seja como for, desejo ir o mais depressa possível!” Então Joabe consentiu dizendo: “Vai, se é o que desejas!” E Aimaás partiu em disparada pelo caminho da planície do Jordão e passou à frente do homem de Cuxe.
Davi encontrava-se sentado entre a porta interna e à externa da cidade. E quando o soldado que fica de sentinela subiu ao terraço que havia sobre a porta, junto à muralha, observou um homem que vinha correndo sozinho. Imediatamente o soldado gritou, avisando o rei. E Davi disse: “Se ele está sozinho, deve trazer boa notícia!” E aquele homem foi se aproximando. Mas o soldado de vigia viu outro homem que se aproximava logo atrás do primeiro, e alertou ao porteiro: “Eis que vem outro homem que corre sozinho!” Ao que exclamou o rei: “Esse também deve estar trazendo boas novas.” O vigia acrescentou em alta voz: “Eu reconheço o modo de correr do primeiro homem: é como corre Aimaás, filho de Zadoque!” E ponderou o rei: “Este é um bom homem, ele deve estar trazendo uma boa mensagem.”
Então Aimaás aproximou-se do rei e o saudou reverentemente. Atirou-se com o rosto ao chão, diante do rei e anunciou: “Bendito seja o SENHOR, o teu Deus! Ele entregou os homens que se insurgiram contra o rei, meu senhor!” Prontamente o rei questionou: “O jovem Absalão está bem?” Ao que Aimaás respondeu: “Observei que houve grande alvoroço no momento em que Joabe, servo do rei, mandou este teu servo, contudo não sei o que aconteceu.” O rei ordenou: “Fica aqui ao lado e aguarda um pouco.”
Em seguida chegou o etíope e transmitiu a seguinte informação: “Ó rei, meu senhor, ouve a boa notícia! Hoje o SENHOR te fez justiça livrando-te de todos os que se levantaram contra ti! E o rei indagou ao cuxita: “Vai tudo bem com o moço Absalão?” E o etíope respondeu: “Que tenham a mesma sorte desse moço todos os inimigos do senhor meu rei e todos os que se têm levantado contra ti para te fazerem mal!”
Então o rei, profundamente abalado, subiu ao quarto que ficava por sobre a porta e chorou copiosamente. O rei ia subindo e clamando aos soluços: “Meu amado filho Absalão! Meu filho! Meu filho Absalão! Quem dera ter morrido em teu lugar! Ah, Absalão, meu querido filho, meu filho!” (II Samuel, 18.19-33).

Um mensageiro geralmente é portador de mensagens boas e ruins, ele precisa ter total segurança e conhecimento da mensagem que vai transmitir. Na época do rei Davi geralmente havia pessoas específicas para levar ou anunciar as mensagens a casa do rei quando este estava distante e precisava saber os fatos ocorridos na guerra ou em outras situações. Nesta ocasião do texto de II Samuel, 18.19-33, o fato principal da ocorrência é a morte do filho amado de Davi, Absalão. Joabe que era um dos comandantes do exército de Davi, após ferir Absalão e mandar matá-lo (II Samuel, 18.14,15), ficou preocupado com a reação de Davi, e enviou mensageiro a Davi.

OS DOIS MENSAGEIROS.

AIMAÁS.
Quem era Aimaás?
Era filho de Zadoque, era mensageiro oficial do rei, era homem de bem e geralmente transmitia boas mensagens.

O CUXITA.
Quem era?
Era um escravo, natural de Cuxe, africano, etíope de pele negra. Era homem de confiança, disposto a obedecer as ordens do rei e dos seus superiores. 

A MENSAGEM E A REAÇÃO DE DAVI À MORTE DE ABSALÃO.

O rei ainda não sabia desses acontecimentos, de modo que Aimaás, filho de Zadoque que havia levado a Davi a informação de Husai sobre os planos de Absalão (17.1-21), se dispõe a levar as boas novas ao rei (18.19). Aos seus olhos, Deus havia feito justiça e o rei ficaria satisfeito com a notícia.
Mas Joabe sabia que era péssima ideia Aimaás levar essa notícia ao rei, pois, embora vitorioso, o rei não ficaria feliz ao ouvir sobre a morte de seu filho Absalão. Joabe conhecia muito bem a reação de Davi ao ouvir notícias da morte de seus inimigos no passado (4.8-11), de modo que encarregou um etíope (um africano) para levar as notícias. 
A forma pela qual os ocidentais interpretam esse incidente demonstra o evidente problema da interpretação bíblica de mentalidade europeia. Alguns estudiosos sugerem que o etíope foi escolhido porque os africanos são excelentes corredores. Outros ostentam racismo declarado ao inferir que a escolha do etíope se deve ao fato de que a cor negra é apropriada para quem entrega más notícias. Outros ainda presumem o fato do etíope ser escravo. Entretanto, nenhuma dessas suposições podem ser justificadas. Este etíope provavelmente era um soldado no exército de Davi. Apesar das tentativas de provar o contrário, percebemos que os africanos têm participado da história do povo de Deus. Até mesmo Moisés teve uma mulher cuxita (Números, 12.1).
A mensagem não era para Aimaás, mas ele insistiu, e diante da sua insistência, Joabe cedeu. Assim partiram dois mensageiros. Um conveniente e outro inconveniente. Aimaás, correu na frente, pegou um atalho e chegou antes do etíope. A sentinela reconheceu Aimaás à distância pelo seu jeito de correr. Como mensageiro, Aimaás estava acostumado a trazer informações ao rei e exaltou a Deus ao anunciar a vitória, porém o rei estava mais interessado nas notícias do seu filho. Ciente das advertências de Joabe, Aimaás fingiu não saber da morte de Absalão. Ou seja, ele não soube transmitir a mensagem. 
Mas depois chegou o etíope, sem pressa, descansado, e entregou a mensagem completa. Chegou também exaltando ao SENHOR pela vitória. Novamente Davi pergunta por Absalão e o africano responde com sabedoria: Seja como aquele os inimigos do rei, meu senhor, e todos os que se levantam contra ti para o mal. O rei compreendeu a resposta e começou a chorar. Davi chora dizendo: Meu filho Absalão, meu filho, meu filho Absalão! Quem me dera que eu morrera por ti, Absalão, meu filho, meu filho! (18.33). O lado paternal de Davi sobrepujou suas emoções de rei. Ele repetiu por cinco vezes a expressão meu filho.

CONCLUSÃO:
Aimaás insistiu em ser o mensageiro e não foi bem sucedido em sua mensagem, na ocasião ele não seria o mensageiro adequado para levar a notícia ao rei. Ele sabendo que havia um outro mensageiro, correu apressadamente, pegou um atalho para chegar primeiro e ao chegar não soube dar a mensagem.
Porém o cuxita que foi designado pelo comandante Joabe como mensageiro oficial, foi sem pressa e ao chegar na presença do rei entregou a mensagem com sabedoria.
Assim acontece com alguns pregadores que se acham detentores das mensagens e se auto intitulam de grandes pregadores. É preciso compreender que nem sempre a mensagem está com os renomados pregadores, muitas vezes Deus quer usar os menos favorecidos, os anônimos, os esquecidos, os que aparentemente não tem mensagens. Deus usa quem quer, ele tem seus propósitos e pessoas certas para o momento oportuno. Está escrito: Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece (Romanos, 9.16). 
Nunca queira ser um mensageiro inconveniente, nunca corra na frente de ninguém, nem tente puxar o tapete dos outros para obter vantagens; espere o tempo de Deus e Ele vai lhe honra na hora certa. Amém!